Todo artilheiro precisa de frieza, faro de gol, um pouco de sorte e, não menos importante, persistência. David Villa pode bem dizer isso. Neste sábado, em Johanesburgo, o atacante estava no lugar certo para decidir a classificação inédita da Espanha para a semifinal da Copa do Mundo da FIFA África do Sul 2010.
Em um confronto equilibrado no estádio Ellis Park, com dois pênaltis desperdiçados em sequência, foi o matador quem tratou de resolver, mais uma vez, a vida dos atuais campeões europeus. Em bate-rebate na área após chute de Pedro na trave direita de Justo Villar, ele ficou com o rebote em seus pés e chutou no canto direito. A bola voltou a bater na trave, mas dessa vez entrou. Foi seu quinto gol no Mundial, para se isolar na tabela.
Villa brilhou mais uma vez (Foto: Reuters)
Se os espanhóis possuíam o time mais técnico, claramente, os paraguaios se apresentaram com aplicação tática, destreza defensiva e contra-ataques perigosos. É o tipo de postura que manteve o placar intacto em seus jogos por mais de quatro horas seguidas em solo sul-africano.
A Fúria agora enfrenta a Alemanha na semifinal, que será disputada no dia 7 de julho, em uma reedição da final da Eurocopa de 2008, na promessa de mais grande duelo pelos mata-matas.
Mudanças no tabuleiroO técnico Gerardo Martino surpreendeu ao promover uma revolução em sua escalação para o confronto, trocando cinco titulares em relação ao time que passou pelo Japão nas oitavas, sem contar o retorno de Victor Cáceres para a cabeça-de-área, após cumprir suspensão. Em compensação, a Espanha foi composta pelo mesmo time titular de toda sua campanha, com exceção feita ao duelo com Honduras, que viu Jesus Navas e David Silva nas vagas de Andrés Iniesta e Fernando Torres.
Entre os Guaranís, Darío Verón fez sua estreia na lateral-direita, no lugar de Carlos Bonet. Jonathan Santana e Edgar Barreto foram para o meio-campo, enquanto Enrique Vera perdeu o lugar pela faixa direita. No ataque, em vez de três peças, o argentino decidiu usar apenas uma, com Óscar Cardozo e Nelson Haedo formando a dupla, em vez do trio Roque Santa Cruz-Lucas Barrios-Edgar Benítez.
A ideia do treinador foi colocar Santana e Barreto adiantados no meio-campo para exercer uma marcação por pressão na intermediária espanhola, para, quiçá, dificultar o toque de bola de seus talentosos adversários. Quando os campeões europeus avançavam com a bola, os sul-americanos recuavam seus jogadores e por vezes usavam até mesmo Haedo na contenção.
Fúria e técnicaPor 20 minutos, funcionou muito bem. Os espanhóis só acertaram seu primeiro chute a gol com perigo em jogada esperta de Xavi, aos 28. O meia do Barcelona dominou a bola com reflexo e tentou, da entrada da área, encobrir Justo Villar com um toque sutil, para fora. Antes disso, o time já começava a penetrar em território oponente trocando passes com velocidade, de pé em pé, para abrir espaços, deixando Iniesta, Torres ou David Villa no mano-a-mano, situação em que são muito perigosos. Eles também deram atenção à saída de bola e forçaram alguns erros de passes.
O Paraguai começou a ficar acuado, desta forma, em seu campo, restando-lhe o contra-ataque como única resposta e alternativa. Uma boa oportunidade para tanto saiu aos 35 minutos, quando Barreto foi ligeiro para lançar o lateral Claudio Morel pela esquerda. O ex-jogador do Boca Juniors avançou em velocidade e cruzou para a área. Santana, por pouco, não alcançou a bola em mergulho, livre, dentro da área.
David Villa







Aos 45, Cardozo fez belo passe no meio para Valdez, que protegeu bem a bola e partiu à frente do zagueiro rumo à área. Com certa liberdade, ele acabou não progredindo tanto e arriscou de fora da área, muito por cima do gol de Iker Casillas, no último lance da primeira etapa.Frenesi em campoEm uma noite fria no Ellis Park, o jogo demorou alguns minutos para esquentar no segundo tempo. O panorama mudou, contudo, e drasticamente, aos 58, quando, em bola aérea paraguaia, o zagueiro Gerard Piqué derrubou Cardozo na área. O artilheiro do Benfica, que havia marcado o gol da classificação ante os japoneses na disputa por pênaltis, foi para a cobrança e, dessa vez, acabou desperdiçando, em defesa de Casillas.Incrivelmente, logo em seguida, um minuto depois, foi a vez de a Espanha ter um pênalti a seu favor, e a torcida nem teve tempo para respirar. Villa arrancou pela esquerda, entrou na área e foi derrubado por Antolín Alcaraz. Xabi Alonso bateu pela primeira vez e marcou. Mas o árbitro Carlos Batres mandou voltar. Na segunda tentativa, o meio-campista viu Villar fazer a defesa, espalmando. Após confusão na área, no rebote, os paraguaios se livraram com um escanteio.Quando a histeria coletiva que se instaurou na arena, a Espanha se assentou e voltou a ter domínio de bola no ataque e passou a chegar com perigo. Até que aos 83 minutos, a barreira paraguaia foi rompida. Iniesta arrancou pelo meio e desarmou a zaga, para passar para Césc Fábregas (que entrou no lugar de Fernando Torres) na área. O meia bateu firme, e a bola explodiu na trave direita de Villar para sobrar nos pés de Villa. O artilheiro chutou cruzado. A bola voltou a tocar na trave, mas dessa vez acabou na rede.O Paraguai ainda teve uma chance de buscar o empate aos 89 minutos, quando Lucas Barrios recebeu lançamento pela direita e partiu para a área. Ele chutou rasteiro, e Casillas soltou. Na sobra, o goleiro foi arrojado e fechou o ângulo na finalização de Roque Santa Cruz. No fim, a combinação entre o goleiro e Villa acabou sendo preponderante para o triunfo espanhol.