Patrícia Amorim, a primeira mulher a assumir o comando do Flamengo |
O chumbo grosso vem da rejeição às contas da gestão de Márcio Braga. Até agora não foram votadas, no Deliberativo, as demonstrações do exercício de 2008. A comissão permanente de finanças deste conselho recomendou em novembro a não aprovação das contas. O Conselho Fiscal também rejeitou os números apresentados. “A dívida no futebol cresceu, mas vencemos o hexa”, declarou Márcio Braga, sem deixar de elogiar sua sucessora, apesar de tê-la demitido este ano do cargo de vice de esportes olímpicos. Ele alegou ter resolvido convocar um profissional a fim de buscar subsídios para bancar o time de basquete montado por Patrícia que, apesar dos títulos, custou caro e, sem verba, sofreu com constante atraso de salário.
“A Patrícia sempre foi bem aceita nas pesquisas e acho que tem tudo para ser uma grande presidente. Ela já planejava a sua candidatura. Mas não tem grande habilidade na área de patrocínios”, alfineta. “Por isso, precisei trazer um profissional para arrumar uma forma de sustentar os compromissos. A Patrícia é cria da casa. Ela tem praticamente o mesmo tempo de Flamengo que eu. Conheci quando era uma menina e começava a nadar no clube”, contou Braga.
No seu programa de candidatura, a ex-nadadora, como os que a precederam, estabeleceu como meta tornar a sede da Gávea um centro de esporte, entretenimento e lazer, citando especificamente as obras nas quadras e no parque aquático. Incluiu também a criação de um Conselho Consultivo do Futebol e prioridade para conclusão do CT em Vargem Grande, o Ninho do Urubu. No esporte amador, o programa diz que a nova presidente buscará patrocínio individual para as modalidades e tentará alavancar recursos através das leis de incentivo ao esporte. Com o hexa e Libertadores em 2010, o orçamento para o primeiro ano de gestão é recorde: R$ 148 milhões. Mas a dívida ainda é bem superior ao dobro deste valor. Patrícia Amorim terá três anos para mostrar que pode mudar o rumo dessa prosa. Leia entrevista ao iG.
O que leva uma pessoa a gastar energia e dinheiro do próprio bolso para assumir um cargo não remunerado para gerir uma instituição com R$ 333 milhões de dívida?
Patrícia Amorim- Não é loucura. Tem de conhecer o clube. O Flamengo é uma grande potência que não se organizou. Não estou dizendo que é uma zona. Mas a estrutura física é a mesma desde a década de 60, 70. Os equipamentos estão ultrapassados. E temos um contingente de pessoas muito qualificadas, mas a estrutura não acompanha. Não que a estrutura seja determinante no resultado, senão o Flamengo não teria sido hexacampeão, mas os clubes estruturados chegam sempre.
A diretoria do Flamengo apresentou números de gestão que estão sendo muito contestados pelo Conselho Fiscal e pela comissão permanente de finanças do Conselho Deliberativo. Ambos não aprovaram as contas de 2008. Qual a sua análise?
É preciso ver o seguinte: a receita subiu de R$ 53 milhões em 2004 para R$ 118 milhões em 2008. O problema é que a despesa aumentou também. É essa equação que a gente tem de equilibrar. Esse passivo não vai ser resolvido em três anos, mas pode começar a ser equacionado.
Pode revelar quanto se gasta em campanha para presidência do Flamengo?
Gastei muito pouco. Nunca tive facilidade assim para fazer uma campanha, tive apoio de muita gente boa, de amigos, vereadores... Um deu plástico, outro ajuda naquilo. Além do Hélio (Paulo Ferraz, vice-geral de Patrícia), que foi grande. Um ex-presidente que aceitou ser vice, e de uma mulher, mais jovem, isso também é pioneiro. Acredito que foi gasto algo em torno de R$ 150 mil. O Hélio pode precisar melhor, eu fui a reboque.
Como foi a sua saída da gestão do Márcio Braga?
Foi uma situação política. Não era uma questão de colocar uma pessoa para conseguir recursos para pagar o basquete. Até porque, não pagou. O basquete teve um custo cinco vezes maior do que conseguiu captar. E eu já tinha sinalizado que seria candidata. Na época fiquei bastante triste, pois sempre adorei trabalhar com esse time de basquete. Foram 25 meses com eles. Sabia que em algum momento daria essa resposta. Mas como considero um fato político, a resposta teria de ser política, e foi dada agora no fim do ano. Mas sem rancor, a gente se dá muito bem. Não houve nenhum stress pessoal com ele, muito pelo contrário.
Delair Dumbrosk, segundo colocado na eleição e vice geral na gestão anterior, levantou uma questão que segundo ele vem incomodando os sócios do Flamengo. Afirmou que o seu projeto social já tem 700 crianças e que isso deveria ser feito em comunidades, não dentro do clube. Qual é a sua visão?
Primeiro, o projeto existe há seis anos. Seis anos. E durante esse período ninguém se sentiu tão incomodado assim, muito pelo contrário. É um negócio um pouco absurdo. É um projeto social, de inclusão. Já passamos 15 crianças para a natação, em nível estadual, duas para o pólo aquático, quatro para o nado sincronizado, uma na ginástica olímpica... Rendeu frutos. E muito. A neta do Adílio nada ali. Não tem esse formato que eles falam. E além do mais, fechamos agora uma parceria, que consegui até antes da eleição. Até porque seria feio. Obtivemos um patrocínio da Light, que renderá ao clube também. E da mesma forma que alguns sócios podem não gostar, o projeto era custeado por sócios. Fiz essa pesquisa: 80% das seleções brasileiras, nas mais diversas modalidades, são formadas por atletas de origem humilde. É uma tradição no Brasil. Às vezes fica difícil detectar talentos se você não massificar. E o Flamengo está conseguindo: 80% da nossa equipe mirim de natação é desse projeto. Funciona em horário ocioso. Só em período letivo, de 11h às 13h40m.
E o que é mais urgente nessa sua gestão?
Estabelecer um compromisso com a organização do clube. Não podemos perder competitividade mas, ao mesmo tempo, o Flamengo tem de poder honrar seus compromissos. Tem de ser mais transparente nas ações, foco no desempenho, vitórias em todas as áreas, não só no esporte, e tem de se profissionalizar.
Está havendo um contato para que José Carlos Brunoro, gestor da parceria do futebol do Palmeiras com a Parmalat, trabalhe no clube. Como funcionaria isso?
O Brunoro está apresentando um projeto e a ideia é que ele faça uma assessoria esportiva, ajude a organizar o clube. Não é uma coisa do futebol. Há um interesse recíproco. A gente já vinha conversando sem compromisso e continua sem compromisso.
Até que ponto a Copa do Mundo no Rio em 2014 pode alavancar recursos para o Flamengo?
O Ninho do Urubu é uma grande prioridade. A gente tem de buscar recursos privados e públicos. Com a Copa, o movimento dos empreendedores e investidores segue no sentido Rio de Janeiro. Estruturando seu CT, se o Flamengo tiver um equipamento de qualidade, poderá alugar e gerar receita direta, além de ter contrapartidas sociais em uma parceria pública. Muitas seleções virão antes da Copa para se adaptarem.
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